sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Benfica em 1926: Cosme Damião e Ribeiro dos Reis

Em 1926, um ano após a inauguração do Estádio das Amoreiras, o poder de Cosme Damião dentro do Benfica será, pela primeira vez, desafiado e contestado. A sua obra e o seu papel dentro do clube serão questionados em Assembleia-Geral por um grupo de oposicionistas, liderados por Ribeiro dos Reis, que pretendiam liderar os destinos do clube com uma dinâmica mais progressista.

O futebol mudara. O Benfica mudara. Novos tempos se avistavam, completamente diferentes dos tempos de jogador de Cosme. Alguns associados sentiram que o clube tinha uma organização rudimentar e de certa forma desajustada aos novos tempos, e resolveram concorrer contra a lista de Cosme, que era encabeçada por Bento Mântua. Sentiam que o Benfica estava demasiado centralizado na pessoa de Cosme e que era necessário uma revolução dentro do clube. Não porque achassem que Cosme Damião era incompetente ou desonesto. Não, muito pelo contrário. A lista oposicionista achava, isso sim, que o Benfica necessitava de uma gestão mais complexa, pois não poderia continuar a ser gerido por uma só pessoa. Todavia, reconhecendo as competências e a enorme importância de Cosme Damião, a lista oposicionista convida-o para encabeçar a lista, algo que ele rejeita. Como homem de honra que era, Damião recusa entrar em qualquer lista que não aquela em que estava desde 1917 a ocupar vários cargos.

Desta forma, em Assembleia-Geral de 5 de Agosto de 1926, apresentam-se duas facções a concorrer para a liderança do clube encarnado. De um lado, a falange designada de tradicionalista, encabeçada por Bento Mântua mas liderada, na prática, por Cosme Damião. E do outro lado, uma falange mais revolucionária, liderada por Ribeiro dos Reis e com nomes como Ávila de Melo e Vítor Gonçalves. A primeira representava a direcção que estava em posse desde 1917, e que tinha sido a principal responsável pela construção do Estádio das Amoreiras, enquanto a segunda representava a ala revolucionária que queria dotar o clube de uma nova organização. Eram duas concepções completamente distintas daquilo que deveriam ser o futebol e o Benfica.

De uma forma genérica, podemos considerar a facção de Cosme como conservadora, amadora e de continuidade. A outra era uma corrente progressista, mais profissional e de ruptura. A bandeira de Ribeiro dos Reus assentava na frase «Basta de irresponsáveis». A de Bento Mântua tinha como lema «Cosme forever». No epicentro das divergências estavam duas coisas fundamentais: as Amoreiras e o profissionalismo, para além de uma concepção completamente diferente sobre a organização do futebol encarnado. O Benfica e a direcção de Mântua tinham realizado um enorme esforço financeiro para a construção das Amoreiras, tendo de recorrer a empréstimos e avultadas dívidas. Apenas assim foi possível construir uma obra que simbolizasse a força associativa do clube. Contudo, se o Benfica possuía, finalmente, um estádio com a dimensão que o prestígio já lhe exigia, a sua equipa de futebol atravessava uma grave crise na década de 20. O Benfica, habituado a vencer desde 1910, encontrava-se nos anos 20 ultrapassado no plano desportivo, não só pelo Sporting, que entra numa senda de vitórias, mas também pelo recém-criado CF «Os Belenenses». Isto inquieta os sócios. Não só as dívidas do clube, mas também a falta de vitórias.

(...) A lista liderada por Ribeiro dos Reis acaba por vencer as eleições. Tinha, de facto, uma linha mais actual e mais consonante com a realidade do futebol dos anos 20.


Serrado, R (2010) "Cosme Damião: O Homem Que Sonhou o Benfica", Zebra Publicações, págs. 108-112.

108 Anos de História.
59 Treinadores de Futebol.
34 Presidentes da Direcção.
8 Estádios:
Terras do Desembargador 1904-1907;
Quinta Feiteira 1907-2913;
Sete Rios 1913-1917;
Benfica 1917-1922;
Amoreiras 1925-1940;
Campo Grande 1941-1954;
Estádio da Luz 1954-2003;
Novo Estádio da Luz 2003-.

Ontem. Passado. Hoje. Presente. Vento da mudança. Medo de quê?

2 comentários:

ravanelli disse...

Mt bom. O paralelismo é sem dúvida interessante, o problema é só q hoje não há um ribeiro dos reis. Só vejo oportunistas e fantoches de grupos interessados em entrar no benfica.

Sweet-Sour Grim Reaper disse...

Infelizmente quem se dispõe a entrar numa função desta responsabilidade e pressão, espera contrapartidas. Com Vieira vieram os homens do betão e cimento (isto também aconteceu no Sporting). Ele já "sugou" aquilo que tinha a sugar... estou convencido que os interesses económicos do Vieira estão interligados ao sucesso desportivo (Stars Fund, etc). Com uma nova direção viria um novo grupo de interesses (eucaliptos) a quererem sugar o mais depressa possível sabe-se la por que ângulo. Infelizmente em 2012 não se encontram aos pontapés pessoas da craveira dos nossos grandes presidentes.